Diante das múltiplas crises socioambientais e da urgência para enfrentar as mudanças climáticas, os SAFs são uma importante solução. Não se trata das Sociedades Anônimas de Futebol que vêm tendo sucesso em times pelo Brasil, e sim dos Sistemas Agroflorestais. Em Marajó, no Pará, eles estão sendo implementados para regenerar territórios, garantir segurança alimentar e fortalecer economias locais.
O arquipélago do Marajó, formado por cerca de 3 mil ilhas, abriga uma das maiores biodiversidades da Amazônia, mas está entre as regiões mais vulneráveis às mudanças do clima. A população já enfrenta alterações no regime de chuvas, secas prolongadas e mudanças nos ciclos de plantio e colheita. Nesse contexto, o projeto Marajó Resiliente aposta nos SAFs como estratégia de adaptação e resiliência climática.

Um estudo do Imaflora estima que cada hectare plantado de cacau orgânico compensa as emissões de 2,7 hectares da atividade pecuária extensiva
Segundo o material Florestas de Valor, produzido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), os SAFs são sistemas que reúnem diferentes espécies de plantas cultivadas em conjunto, de modo a simular o processo natural de regeneração da floresta. Assim, diferentes espécies são plantadas na mesma área, incluindo culturas perenes, como árvores frutífera, com culturas de ciclo curto, como milho e mandioca.
A inovação vem da própria natureza. Quando uma área desmatada é deixada em repouso, a floresta inicia, sozinha, um processo de regeneração. Surgem as primeiras plantas, que protegem o solo e criam as condições para o crescimento de outras espécies. Nesse sistema, cada planta cumpre uma função ecológica, e o conjunto proporciona sombra, cobertura do solo, fertilidade e biodiversidade.
No Marajó, a implantação dos SAFs é feita em parceria com famílias agricultoras, ribeirinhos, indígenas e quilombolas dos municípios de Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure. A iniciativa, liderada pela Fundação Avina, em companhia do Instituto Belterra e da Conexsus, além de diversos parceiros locais, combina assistência técnica, valorização dos saberes tradicionais e articulação política para garantir acesso a crédito e políticas públicas adaptadas às realidades locais.
“Já visitei áreas com SAFs mais antigos e percebi que lá o ar é mais fresco, como uma floresta dentro da propriedade, diferente do calor daqui. Além disso, tem os ganhos financeiros, já que a diversidade de culturas permite a gente colher o ano todo”, conta o agricultor Cassiel Conceição Feio, da comunidade de Condeixo.
Outro território no estado do Pará que também vem colhendo os frutos dos SAFs é São Félix do Xingu. Lá, o Imaflora atua em parceria com a Camppax (Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu), a AMPPF (Associação de Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas) e agricultores familiares, promovendo boas práticas agroecológicas e fortalecendo a cadeia do cacau.
Nos SAFs da região, o cacau é cultivado ao lado de outras espécies nativas e alimentares. O modelo melhora as práticas agrícolas, aumenta a resiliência das famílias às mudanças climáticas, desenvolve capacidade técnica na juventude rural e fortalece iniciativas comerciais para geração de renda e agregação de valor aos produtos.
De acordo com o Imaflora, a produção de cacau por meio de SAF ajuda também a reduzir o impacto das emissões de gases do efeito estufa oriundas da atividade pecuária na Amazônia. Um estudo da organização estima que cada hectare plantado de cacau orgânico compensa as emissões de 2,7 hectares da atividade pecuária extensiva, atingindo um balanço neutro de emissões.
Os Sistemas Agroflorestais são exemplo de práticas que regeneram, produzem, adaptam e mitigam. As experiências no Marajó e em São Félix do Xingu mostram que a transição para uma agricultura de baixo carbono é possível e pode ser multiplicada através de políticas públicas adequadas, financiamento direto às comunidades e reconhecimento do protagonismo dos povos da floresta, dos agricultores familiares e dos jovens do campo.
A COP30, que será realizada em Belém, é uma oportunidade de virar o holofote para soluções que já estão em curso, lideradas por quem vive na linha de frente da crise climática.