A COP30 bateu um recorde de participação – e isso não é uma boa notícia. O número de lobistas da indústria fóssil credenciados para a conferência bateu a marca de 1.602, a maior presença proporcional em relação ao número total de participantes já registrada. Os dados são de relatório publicado nesta sexta-feira (14/11) pela coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO na sigla em inglês, Expulse os Grandes Poluidores em tradução livre). O grupo analisa a participação dos lobistas nas COPs desde 2021. 

Um em cada 25 participantes da COP30 está lá em nome de petroleiras ou grupos comerciais associados à indústria fóssil, mostrou a análise. Os 1.602 lobistas identificados formam uma “delegação” maior do que a de todos os países individualmente, exceto a do Brasil, que tem 3.805 pessoas registradas. 

Petroleco F.C: Um em cada 25 participantes da COP30 está lá em nome de empresas ligadas ao combustível fóssil

Proporcionalmente, a presença de lobistas cresceu 12% em relação ao ano passado, na COP de Baku, no Azerbaijão, mesmo que o número total de representantes fósseis no ano passado ter sido maior: 1.773. Explica-se: a COP30 tem 40.050 credenciados, contra 52.305 na COP29.

“É óbvio que você não pode resolver um problema dando poder a quem o causou. Ainda assim, três décadas e 30 COPs depois, mais de 1.500 lobistas de combustíveis fósseis circulam pelas negociações climáticas como se pertencessem a esse espaço. É revoltante ver sua influência se aprofundar ano após ano, zombando do processo e das comunidades que sofrem suas consequências”, disse Jax Bongon, membro da Kick Big Polluters Out e integrante da organização IBON International nas Filipinas. 

Citando o recente desastre climático que atingiu sua região, Bongon criticou ainda as “falsas soluções” vendidas por representantes da indústria na conferência. “Dias após enchentes devastadoras e supertufões nas Filipinas, e em meio ao agravamento de secas, ondas de calor e deslocamentos em todo o Sul Global, vemos as próprias corporações que impulsionam essa crise ganhando espaço para impor as mesmas falsas ‘soluções’ que protegem seus lucros e minam qualquer esperança de realmente enfrentar a emergência climática”, declarou. 

O levantamento mostra que o número de lobistas é quase 50 vezes maior que a delegação das Filipinas e 40 vezes maior que a da Jamaica, outro país recentemente atingido por um extremo climático. Além disso, a análise dá conta de que a delegação dos fósseis superou em muito a soma de representantes dos dez países mais vulneráveis à crise do clima. Chade, Eritreia, Guiné-Bissau, Ilhas Salomão, Micronésia, Níger, Serra Leoa, Somália, Sudão, Tonga, somados, têm 1.061 representantes na COP30. Os lobistas têm 66% a mais. 

Parte dos lobistas é credenciado por associações comerciais, como a International Emissions Trading Association, organização observadora oficial da COP, que trouxe 60 representantes a Belém. Entre eles, estão integrantes de gigantes do petróleo e gás como ExxonMobil, BP e TotalEnergies, revela a análise. Em outros casos, os lobistas são credenciados como excedentes nas delegações oficiais dos países. 

A França, por exemplo, credenciou 22 delegados da indústria fóssil, sendo cinco deles da TotalEergies. O CEO da gigante, Patrick Pouyanné, é um deles, e tem acesso às salas de negociação e bastidores do processo diplomático. Segundo o levantamento, foram quase 600 lobistas credenciados como excedentes das delegações nacionais. 

Integrantes da coalizão relacionam ainda a “inundação fóssil” na COP às agressões militares alimentadas pela indústria em todo o mundo. “Muitas das corporações de combustíveis fósseis que estão enviando um número significativo de lobistas para a COP30 também estão diretamente permitindo o genocídio contínuo da Palestina e a violência sistêmica ao redor do mundo”, disseram. 

A análise da KBPO considerou a lista provisória de delegados divulgada pela Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) no último dia 10/11. Participantes são identificados como lobistas de acordo com as informações fornecidas ao próprio órgão para o credenciamento, como afiliação a empresas de combustíveis fósseis ou organizações ligadas ao setor. A declaração pública de quem financia a participação de delegados não-governamentais é um resultado da pressão da sociedade civil. Na COP30, pela primeira vez, essa declaração é obrigatória. 

“A presença desproporcional da indústria de combustíveis fósseis em Belém ameaça os objetivos declarados da COP30, que o Brasil posicionou como um momento crítico para implementar o Acordo de Paris e ampliar o financiamento climático. Essa contradição reforça ainda mais a demanda por COPs livres de poluidores e o estabelecimento de salvaguardas formais contra a influência dos poluidores”, declarou, em nota, a coalizão. (LEILA SALIM)