Secas prolongadas, chuvas extremas, cidades vulneráveis e colheitas ameaçadas: os impactos da crise climática são cada vez mais claros no Brasil. Mas ainda é possível virar o jogo. As florestas tropicais, rios, manguezais, restingas, savanas, campos e a maior biodiversidade do planeta podem ser os principais trunfos do país na corrida global por emissões líquidas zero até 2050. A aposta é nas chamadas Soluções baseadas na Natureza (SbN) – estratégias de combate às crises climáticas que se baseiam na conservação, restauração e manejo sustentável de ecossistemas.
Antes de partir para o ataque, é preciso fechar o gol, e a conservação é o primeiro passo. Manter a floresta em pé é é uma das medidas mais eficazes para conter as emissões de gases de efeito estufa – só o corte do desmatamento ilegal pode mitigar cerca de 446 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano até 2050. Chegar ao desmatamento zero pode contribuir com mais de 90% da redução das emissões brasileiras entre 2020 e 2030. Proteger a floresta é também uma forma de proteger sua biodiversidade, água, solo, ar, clima e, consequentemente, o sustento e a qualidade de vida das pessoas que ali habitam.

É possível beneficiar mais de 11 mil espécies e aumentar o habitat disponível em até 10% com uma política de restauração bem articulada
Com a zaga montada, é hora de armar o ataque. O Brasil tem como meta restaurar 12 milhões de hectares até 2030, mas é preciso ser mais ambicioso. Uma meta mais ousada, como restaurar 30% de cada bioma brasileiro (conforme o Target 2 do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal), poderia render um gol de placa climático, com a captura de até 9,8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (unidade que traduz o impacto de todos os gases-estufa em CO₂).
Se a jogada for bem armada, escolhendo áreas prioritárias para a restauração, os resultados são ainda mais expressivos: podemos beneficiar mais de 11 mil espécies, aumentar o habitat disponível em até 10%. Cada hectare restaurado é um passe certeiro mais próximo ao gol.
A redução dos riscos de desastres ambientais é uma das principais vantagens das SbN. Ecossistemas preservados ou restaurados funcionam como goleiros de elite, protegendo o país contra secas, enchentes, ondas de calor e até erosão costeira.
No combate à crise hídrica, essas soluções garantem a circulação da umidade por meio de processos naturais que formam nuvens, chuva e vapor no campo atmosférico. Elas regulam o fluxo hídrico, ajudam na recarga de águas subterrâneas e mantêm a qualidade da água. Na agricultura, as Soluções baseadas na Natureza aumentam a produtividade por meio da oferta de polinizadores, da qualidade do solo e da regulação climática local, contribuindo também para a segurança alimentar e o combate à fome.
O Brasil tem condições de se tornar referência global em clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável — desde que adote uma estratégia clara, com metas ambiciosas e ação coordenada entre governos, sociedade civil e setor privado.
O apito final ainda está longe, mas o jogo já começou. Mudar de estratégia no final pode ser tarde demais. A boa notícia? Temos tudo para vencer: elenco qualificado, cientistas e tecnologia de ponta e um estádio lotado de torcedores prontos para apoiar o time da sustentabilidade.