No futebol o árbitro é quem decide quem está correto ou não nos lances duvidosos. Em situações complexas, ele pode contar com a ajuda valiosa do árbitro de vídeo, o VAR. No campo da pecuária é parecido: os procuradores do Programa Carne Legal do Ministério Público Federal (MPF) são os juízes – apitam as partidas, levantam o cartão amarelo indicando quais frigoríficos precisam melhorar seu desempenho socioambiental. As diferentes rodadas desse campeonato são as auditorias do Termos de Ajustamento de Conduta, conhecidos como TAC da Carne.  

Cada estado da Amazônia que participa do programa é um time regional. O Pará tem mais tradição, joga há muitos anos, mas os novatos Acre, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia estão há dois anos refinando as estratégias para ganhar espaço e melhorar seu desempenho. Pela primeira vez, em 2024/25, o time do Tocantins deus as caras.  

No grande jogo do mercado de carne, é essencial que cada empresa siga as regras e jogue limpo

E o VAR?  Com apoio de uma Câmara Técnica, o MPF roda as análises automáticas, que entram em campo como um árbitro de vídeo, para corrigir injustiças e trazer mais transparência ao jogo.  

O relatório “De Olho no TAC da Carne” é uma espécie de súmula das partidas deste campeonato – registra os números, mostra quem joga limpo e quem insiste em fazer faltas por trás. Publicado pela Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, o documento detalha o desempenho socioambiental das empresas que assinam o TAC da Carne e ainda dá um balanço daquelas que escondem o jogo. Tudo graças ao juiz e ao VAR! 

Em 2024/25, houve um ganho de transparência nas partidas jogadas nos estados de Mato Grosso e Rondônia. Pela primeira vez, até os jogadores de fora do campeonato (os que não assumiram compromisso) foram analisados, graças à colaboração dos órgãos estaduais sanitários e ambientais, que concederam os dados. Por outro lado, empresas importantes do Acre, Amazonas e de Rondônia não foram escalados para o campeonato; os estados tiveram as menores coberturas no processo de auditorias (32%, 37% e 36%, respectivamente).

Já o Pará, Mato Grosso e Tocantins acertaram em cheio na indicação de quem deveria atrair as câmeras e os holofotes. As auditorias cobriram 79%, 74% e 73% do volume de gado para abate e exportação nesses estados, respectivamente.  

Dos jogadores em campo, destacaram-se os de Tocantins, Mato Grosso e Rondônia. O índice de não conformidade nestes estados foi de 2,0%, 2,4% e 0,5%, respectivamente. As faltas cometidas não comprometeram o jogo, apenas três jogadores do Mato Grosso levaram cartão amarelo e um do Tocantins. Já no Amazonas, Acre e Pará, o jogo sujo de alguns afundou os times, ofuscando o talento daqueles que jogaram limpo e marcaram gols. Nestes estados os índices de não conformidade foram de 35,3%, 9,6% e 8,4%, respectivamente. Levaram cartão vermelho um jogador do Acre, um do Amazonas e seis no Pará.  

Dos jogadores convocados que se omitiram nas partidas, Acre, Amazonas e Pará concentraram os piores. Nesses estados as análises automáticas revelaram que 30%, 10% e 7,4%, respectivamente, do volume para abate e exportação tinham evidência de irregularidade e foram comercializados por empresas não auditadas.  

Algumas empresas não conseguem se posicionar corretamente em campo, o que equivale a não monitorar adequadamente as suas fazendas fornecedoras de carne. Como um jogador que se distrai e deixa espaço na defesa, a falta de atenção pode resultar em gols contra o clima, ou seja, a obtenção de gado de áreas desmatadas. 

O TAC da Carne divulga os desempenhos dos Estados, mostrando quais estados estão com índices preocupantes e quais precisavam melhorar. Mas o De Olho no TAC mostra as faltas cometidas. Foi um carrinho desleal? Foi um lance na bola? As infrações mais encontradas são registros no Cadastro Ambiental com irregularidades, índices de produtividades acima do limite e desmatamento ilegal.  

No grande jogo do mercado de carne, é essencial que cada empresa siga as regras e jogue limpo. As falhas, sejam leves ou graves, não são apenas erros de estratégia, e sim ações que afetam o meio ambiente e a sociedade. É hora de todos se unirem e jogarem juntos para um futuro com mais fair play climático. (CINTIA CAVALCANTI E MAURO ARMELIN)