“Na Colômbia, nós começamos o nosso lobby em fevereiro desse ano”, disse a advogada palestina Rula Shadeed, co-diretora do Instituto Palestino para a Democracia Pública. “Em abril, o presidente Petro fez uma declaração endossando nossa reivindicação. Em agosto a decisão estava tomada. Foi uma vitória em tempo recorde.” 

Shadeed é voluntária do Global Energy Embargo for Palestine (Geep), um movimento que pressiona países a banir a venda de energia a Israel enquanto persistir o geocídio na Faixa de Gaza. A luta, recente – e feita com parceiros da sociedade civil, como ONGs e sindicatos – gerou frutos: em agosto deste ano, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, assinou um decreto de sete páginas proibindo a venda de carvão ao país do Oriente Médio. Agora, o movimento mira em três novos alvos: a África do Sul, a Turquia e o Brasil, países que já declaram apoio ao povo palestino. 

O petróleo bruto vendido pelo Brasil a Israel abastece caças e tanques usados pelo país no massacre à população de Gaza

Hoje, o Brasil fornece 9% do petróleo bruto que entra em Israel, ficando atrás apenas do Azerbaijão, sede da atual COP, com 28%; do Cazaquistão, com 22%; e do Gabão, também com 22%. Os percentuais foram levantados entre outubro de 2023 e junho deste ano pela organização sem fins lucrativos Oil Change International, a partir de registros de remessas, imagens de satélite e dados em código aberto referentes a 65 navios petroleiros que desembarcaram em Israel. Ao menos dois desses navios zarparam do Brasil, com 260 mil toneladas de petróleo bruto, proveniente de campos da britânica Shell e da francesa Total Energies – essa última em parceria com a Petrobras -, segundo noticiou o Observatório do Clima em março.

Nem todo petróleo vendido a Israel alimenta a máquina de extermínio da população palestina (os dados atuais falam em mais de 45 mil mortos, a maior parte mulheres e crianças, para além do sem número de violações à dignidade dos sobreviventes). Pouco importa, portanto, que parte da energia seja usada para fins civis: o petróleo brasileiro abastece caças, tanques e escavadeiras. É parte da guerra que o próprio governo Lula condena. Precisa, portanto, ter o fluxo interrompido.

É por isso que o movimento Global Energy Embargo for Palestine tem feito manifestações diárias nos espaços abertos a manifestações na COP 29 (sim, como a COP ocorre uma vez mais num país de regime autoritário, todo protesto precisa ser autorizado, e só pode ocorrer dentro dos espaços da própria COP).

Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, durante protesto na COP 29

Ontem, a manifestação contou com a participação do jornalista Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, que fez um breve discurso em inglês: “O presidente do meu país é um dos poucos líderes do Ocidente a chamar a guerra em Gaza por aquilo que ela realmente é. Mas ainda assim meu país segue vendendo petróleo que abastece a máquina de guerra e massacra pessoas oprimidas. Fazemos um apelo para que o Brasil se junte ao embargo.” Também ontem, o estado da Palestina ganhou uma moção de solidariedade, na COP, dada pelo júri do prêmio Fossil of the Day. 

“Setenta por cento do carvão importado por Israel vinha da Colômbia”, disse a advogada Rula Shadeed, por telefone. O combustível era usado nos assentamentos ilegais em Gaza, na fabricação de armas e na infraestrutura de energia elétrica necessária para alimentar o uso obsceno da Inteligência Artificial para escolher os alvos na Palestina. “Se a Colômbia conseguiu, não vejo porque o Brasil não possa conseguir.” (ROBERTO KAZ)