Depois de um verão com temperaturas recorde, que fizeram com que as condições da Copa do Mundo de Clubes fossem descritas como “impossíveis” pelos jogadores, um novo estudo alerta: a Copa de 2026 pode ser a última em seu formato atual se nada for feito para reduzir os riscos climáticos.

Segundo o levantamento, dez dos 16 estádios da Copa de 2026 já ultrapassam os limites seguros de calor para o futebol. Até 2050, quase 90% precisarão de adaptações para suportar calor extremo. Nos campos comunitários, todos analisados enfrentam múltiplos riscos climáticos, e dois terços dos campos ligados à infância de Messi, Ronaldo, Salah e Mbappé devem ultrapassar os limites seguros até 2050.

A pesquisa, que ouviu 3.600 torcedores nos EUA, México e Canadá, sugere que o futebol zere emissões líquidas até 2040

O relatório Pitches in Peril (“Campos em Perigo”), divulgado ontem, terça-feira (9), foi elaborado pelas organizações Football for Future e Common Goal, com análise da Jupiter Intelligence. É a primeira avaliação de risco climático alinhada ao IPCC para os estádios da Copa de 2026, que ocorrerá nos Estados Unidos, Canadá e México. O estudo também projeta cenários para 2030 e 2034. No Sul Global, que historicamente emitiu menos gases de efeito estufa e tem menos recursos de adaptação, os campos têm, em média, sete vezes mais dias de calor impraticável que no Norte Global.

O estudo motivou declarações de jogadores como Juan Mata, que jogou na seleção espanhola entre 2009 e 2016, e Serge Gnabry, que disputou a última Copa do Mundo pela Alemanha. “O futebol sempre uniu as pessoas, mas agora também serve de lembrete do que podemos perder se não agirmos”, disse Mata. Gnabry alertou que campos comunitários essenciais para jovens atletas estão sendo ameaçados por calor e eventos extremos.

A pesquisa, que ouviu 3.600 torcedores nas três nações-sede, mostrou 86% esperam que clubes e entidades se posicionem publicamente sobre a crise climática. Jessie Fleming, capitã da seleção feminina do Canadá, comentou que “o jogo está mudando — precisamos agir agora se quisermos proteger o futuro do futebol”.

Campos históricos sob risco

O relatório detalha impactos em campos de referência histórica: o campo de infância de Mo Salah, no Egito, enfrenta mais de um mês por ano de calor impraticável; o local de origem de Pelé, em São Paulo, já registra cinco vezes mais dias de calor extremo; na Nigéria, o campo de William Troost-Ekong pode ter até 338 dias anuais de calor extremo. Na Austrália e Coreia do Sul, campos de base enfrentam risco de inundações e chuvas intensas.

O estudo recomenda que entidades gestoras do futebol assumam compromisso de zerar emissões líquidas até 2040 e financiem adaptações em campos comunitários, principalmente nos países mais vulneráveis. “Se o calor e as inundações tornam esses espaços inseguros, não estamos apenas perdendo campos — estamos minando a base do futuro do futebol”, disse Elliot Arthur-Worsop, da Football for Future.

O lançamento do estudo inclui um evento especial, programado para acontecer durante a tradicional New York Climate Week, em 23 de setembro, com palestras, painéis e depoimentos de atletas.