À medida que a COP 30 se aproxima, cresce a expectativa de que o evento seja um marco para a floresta, renovando metas e compromissos para enfrentar o agravamento das condições climáticas. Haverá um imenso saldo pedagógico, informativo e formativo. Ótimo.

O cenário político, porém, é desafiador. A possível retirada dos Estados Unidos de Donald Trump das negociações e o risco de que outras nações, como a Argentina de Milei, sigam o mesmo caminho, ameaçam os resultados da COP. Esse retrocesso acontece em um momento fatal, em que o aumento da temperatura média na superfície da Terra atinge 1,5ºC, o primeiro limite para um clima global minimamente seguro, segundo cientistas.

Como chegar aos sonhados US$ 1,3 trilhões anuais para políticas de adaptação e transição justa num mundo que ainda investe tanto na indústria bélica?

Os danos provocados pelo presidente dos EUA vão além das omissões climáticas. Sua postura belicosa, inclusive contra aliados tradicionais, gerou desconfiança e insegurança. A forma como rifou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e piscou para o líder da Rússia, Vladimir Putin, deixou claro aos parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que não é certo o apoio dos norte-americanos no caso de agressão militar.

A Alemanha e o Japão, por exemplo, países derrotados na Segunda Guerra Mundial e com restrições militares impostas por décadas, agora percebem a necessidade de fortalecer suas defesas. A percepção é que a OTAN já não oferece a proteção necessária, levando a um aumento global nos orçamentos militares. Orçamentos militares estão em alta no mundo todo, para muito além dos conflitos atuais na Ucrânia, Gaza e Caxemira.

Trump teve a pachorra de ameaçar Canadá, Groenlândia e Panamá de invasão ou anexação. Andou nos ameaçando de ocupar Fernando de Noronha e a base naval de Natal, alegando direitos históricos. Não interessa ao Brasil, nem aos seus vizinhos, a militarização do Atlântico Sul. Mas o presidente dos EUA vê o continente como seu quintal.

Para complicar, a compulsão tarifária do mandatário desorganiza o comércio mundial e ameaça mergulhar, até seu próprio país, em inflação e recessão. Ele joga bruto, mas joga mal, erodindo, rapidamente, a hegemonia exercida pelos EUA nas últimas décadas. O seu slogan preferido, “America First”, pode virar uma “America Last”.

O ano de 2024 foi o mais quente da história, superando 2023, recordista anterior. Eventos climáticos extremos se intensificam, afetando a vida de milhões de pessoas. Refugiados climáticos engrossam o fluxo de migrantes.

Porto Alegre (RS) foi inundada, ondas de calor afetaram o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste. Estiagem brutal na Amazônia dois anos seguidos, avanço da desertificação no sertão do Nordeste. Mortos e desabrigados, safras perdidas, energia mais cara, falta de água nas cidades. Os impactos da mudança climática sobre o Brasil também foram intensos.

Uma das metas da COP30 seria aumentar o volume de recursos disponibilizados pelos países desenvolvidos para enfrentar as mudanças climáticas, dos US$ 300 bilhões já oferecidos na COP29, no ano passado, para US$ 1,3 trilhão por ano. Com a tendência de baixa no comércio mundial e de alta nos gastos militares, de onde sairão os recursos para fins humanitários, inclusive a crise climática?

A COP30 será um manifesto contra a política anti-climática de Trump, mas deveria também homenagear os demais representantes norte-americanos presentes, reconhecendo a importância dos EUA para se enfrentar a mudança climática. O presidente dos EUA já está sob pressão de políticos e empresários para mudar de rumo ou até renunciar.

O clima de guerra drena para a indústria bélica os recursos disponíveis para investir no desenvolvimento sustentável e no combate à miséria nos países mais pobres. Os danos crescentes provocados no clima e os recursos indispensáveis para mitigá-los, ou para se adaptar a eles, não estão disponíveis. A chance de enfrentá-los minimamente depende da paz. Daí o título desse texto, convocando os dirigentes dos países a fazerem suas NDCs em vez de guerras.

Para quem não sabe, NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) são os compromissos de cada país para reduzir emissões de gases do efeito estufa e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. A atual NDC do Brasil visa reduzir as emissões em 53% até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050. O problema é que apesar de as NDCs serem obrigatórias, nem todos os países as remeteram à UNFCCC. Até esse momento, foram pouco mais de vinte, num universo de 198 filiados.

A guerra e as mudanças climáticas conspiram contra a vida. A conquista da paz é condição para potencializar a chance de reverter o aquecimento global. Com emissões de gases de efeito estufa e conflitos em alta, seguiremos em trânsito para o inferno. A defesa da paz é central para as pessoas e organizações empenhadas em superar a emergência climática.