No mundo das mudanças climáticas, dois termos são muito recorrentes: mitigação e adaptação. Fazendo um paralelo com o futebol feminino, a mitigação seria a Martha, a atacante que faz o gol e recebe a glória. E a adaptação seria a zagueira pouco conhecida, mas essencial para a vitória.
As ações de mitigação têm como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater o aquecimento global. Por se tratarem de desafios que afetam todos os países, as estratégias de mitigação se tornam as estrelas das conferências da ONU sobre mudanças do clima. Consequentemente, a maior parte dos recursos destinados ao enfrentamento da crise climática é direcionada para essa frente.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o financiamento mundial para adaptação precisa de 187 a 359 bilhões de dólares por ano - valor muito distante do que tem sido empenhado
A mitigação compreende estratégias como a transição para fontes renováveis de energia, o reflorestamento de florestas nativas, a gestão adequada de resíduos sólidos e a adoção de tecnologias limpas nos processos industriais.
Já a adaptação diz respeito à preparação dos sistemas naturais e humanos para aliviar os riscos das crises geradas por eventos como secas e enchentes, e também à identificação de oportunidades que possam surgir em meio às transformações do clima.
A adaptação reduz a vulnerabilidade dos ecossistemas através do fortalecimento de sistemas de prevenção, de alerta e de resposta a desastres naturais. Compreende medidas como a construção de infraestruturas verdes e corredores ecológicos, a implementação de técnicas agrícolas inteligentes e a restauração de áreas degradadas. Ela é menos popular porque políticas de prevenção e restauração geram menos atenção – e consequentemente, menos votos – do que medidas compensatórias ou de redução de emissões, que normalmente são mais fáceis de comunicar do que medidas de adaptação
Mas sem a zagueira protegendo a retaguarda, a atacante não muda o jogo. Os manguezais são um exemplo dessa defesa eficiente que ajuda o ataque, combinando mitigação e adaptação. Enquanto capturam gases de efeito estufa, esses ecossistemas também preservam a biodiversidade da vida marinha e ajudam a conter o avanço do nível do mar.
Para vencer a crise climática, é preciso investimento – e os números mostram o que está em jogo. No caso das enchentes ocorridas há um ano no Rio Grande do Sul, por exemplo, o custo estimado para adaptar as estradas aos efeitos da crise chega a R$ 10 bilhões (cerca 2 bilhões de dólares, segundo o Infomoney). Isso para um único tipo de infraestrutura, em uma única região, que sofreu um evento único.
Só em 2023, ocorreram no Brasil mais de 6 mil eventos climáticos extremos com mais de 48 milhões de pessoas atingidas, segundo a Fiocruz. São fenômenos das mais diversas naturezas: climatológica, meteorológica, hidrológica, geológica. Quantos bilhões de dólares seriam necessários então para evitar que vidas (humanas e não-humanas) sejam perdidas no mundo inteiro?
Na COP29, em Baku, a Alemanha se comprometeu a doar 60 milhões de euros por ano, elevando o total arrecadado pelo Fundo de Adaptação para cerca de 124 milhões de dólares, de acordo com a WR). O valor representa menos da metade da meta anual de 300 milhões de dólares, estabelecida desde 2022. Pior: segundo o Gap Report, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), a lacuna de financiamento mundial para adaptação está entre 187 e 359 bilhões de dólares por ano.
Para ter um time vencedor, é preciso investimento, mas jogadoras não vivem só de salários. Uma boa atleta precisa de preparo físico, dieta e um bom treinador. Da mesma forma, países em desenvolvimento precisam de suporte para além do dinheiro. Eles precisam de meios adequados às suas realidades para implementar um Plano Nacional de Adaptação coerente e eficaz.
No campeonato da mudança do clima, a COP30 é decisiva para virar o jogo. A adaptação precisa sair da defesa e partir para o ataque, com políticas de replantio de florestas, restauração de ecossistemas, criação de unidades de conservação, demarcação de terras indígenas e ampliação de áreas verdes nas cidades.
Nesta copa do clima, só se ganha jogando limpo. E junto: defesa e ataque, adaptação e mitigação.