No começo deste mês, a ativista climática e produtora cultural Marcele Oliveira, de 26 anos, foi eleita Youth Climate Champion (em português, Campeã da Juventude) da COP30. Trata-se de um cargo sem remuneração dentro da presidência da COP, criado para ampliar a inclusão e a representação jovem nas políticas climáticas, com acesso a recursos e mecanismos de acompanhamento. A ideia de um jovem campeão climático surgiu na COP27, no Egito; a mais recente campeã foi a ativista azeri Leyla Hasanova, que atuou na COP29, no Azerbaijão.
A escolha para o cargo foi feita pela presidência da República, a partir de uma lista de 154 jovens, com idades entre 18 e 35 anos, que se inscreveram no edital da Secretaria Nacional de Juventude. Entre eles estavam Txai Suruí, a primeira indígena a discursar na abertura de uma COP do Clima, em 2021; Paloma Costa, advogada que discursou ao lado de Greta Thunberg para chefes de Estado na sede da ONU, em 2019; e Beatriz Azevedo de Araújo, jovem premiada pela ONU em 2024 pelo seu trabalho no combate à desertificação.

"A política dos homens fez o que fez. É a vez das mulheres e das juventudes,” diz Marcele Oliveira, a Jovem Campeão do Clima da COP30
“Em mandatos anteriores, o Campeão foi escolhido por nomeação. Esse processo seletivo traz mais visibilidade para diferentes ideias”, diz Marcele. Ao longo desses primeiros dias de mandato, ela tem atuado diretamente de Brasília, concentrando seus esforços em fortalecer o diálogo entre o secretariado da ONU, a presidência da COP, o governo federal, a Secretaria-Geral da Presidência da República e a Secretaria Nacional da Juventude.
O trabalho de Marcele como ativista climática começou em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde cresceu. Ela lembra como, desde cedo, percebeu as desigualdades e o que chama de “vacilos ambientais” pela cidade. Enquanto bairros mais nobres eram arborizados, nas periferias só se via concreto. A luta por um parque ecológico se tornou, então, uma forma de construir uma cidade mais justa e sustentável. O esforço coletivo, do qual fez parte, acabou resultando na criação recente, por parte da prefeitura do Rio, do Parque Realengo Verde, um projeto que deu nova vida a um dos bairros mais distantes do Centro da cidade.
É com esse espírito de mutirão que Marcele entra na COP30. “Na prática, esse mutirão é horta comunitária, é cozinha solidária, é teto verde, é brigada de combate às enchentes e queimadas”, afirma a Campeã da Juventude. Para ela, a mudança começa na cultura, que dita o modo como a distribuição, o desenvolvimento e as negociações são vistas.
Marcele é cofundadora da coalizão O Clima é de Mudança, que reúne organizações periféricas no enfrentamento ao racismo ambiental e na construção de propostas de adaptação climática. Ela também integra o time de Jovens Negociadores pelo Clima da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, e é diretora executiva do PerifaLab, uma rede apartidária de coletivos que forma e impulsiona lideranças de favelas para ocupar espaços de poder
Ao longo de seus dois anos de cargo – o primeiro atuando na COP30, e o segundo ajudando o próximo ou próxima campeã climática a atuar na COP31 -, Marcele quer conversar com lideranças mundo afora sobre o tipo de planeta em que “a gente quer viver”, e sobre quais são os meios de financiamento e adaptação necessários para alcançá-lo. Ao fim do biênio, torce para que o seu posto continue sendo ocupado por uma mulher. “A política dos homens fez o que fez, não funcionou e destruiu o mundo. Então é a vez das mulheres e das juventudes.”
No próximo domingo, 1 de junho, Marcele fará parte da Mesa Redonda da Central da COP, ao lado do jornalista Claudio Angelo e do advogado Nauê Bernardo, durante o Festival Rio 2C. O evento ocorre às 11h, na Cidade das Artes. Mais informações aqui.