No princípio era o verbo. Mentira, no princípio era a ECO-92.
Não conhece? Deixa que eu te explico. ECO-92 foi a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu em 1992 no Rio de Janeiro. Essa conferência, com caráter internacional, foi um marco no movimento ambiental mundial porque estabeleceu as bases para acordos e tratados mundiais que são discutidos até hoje. Desde então, mais de 190 países se reúnem todos os anos, nas COPs, para pensar em soluções para a situação do clima no mundo.
COP é o acrônimo para Conferência das Partes, um encontro dos líderes mundiais para avaliar progressos na mitigação da crise climática, seguir negociando os acordos firmados e estabelecer novos compromissos políticos. Na teoria, é bem bonito, parece que eles vão resolver tudo. Na prática a história é outra.
Essas conferências são processos importantes de decisão. Sempre me pergunto o que seria o mundo se não tivéssemos acordo nenhum. Foi na COP21, de Paris, que saiu o famoso Acordo de Paris, que é um tratado assinado por quase todos os países e que tem como principal objetivo manter o aquecimento global bem abaixo de 2,0 ºC, com esforços para limitar em 1,5 ºC. Esse número de 1,5 ºC pode não significar muita coisa para você, mas ele tem sua história de luta que só apareceu por conta da pressão dos países mais vulneráveis e da sociedade civil mundial. A parte triste é a seguinte: precisou haver 21 COPs para que um acordo desse tipo fosse colocado de pé. É uma lentidão que não corresponde ao tempo em que vivemos hoje, onde a crise climática está cada vez mais intensificada.
Neste ano, na COP 29 de Baku, a discussão será acerca do financiamento climático. Em outras palavras, aquela velha pergunta: quem paga a conta? Na nossa visão, é óbvio: os poluidores pagam. Mas quantos anos levará para operacionalizar esses fundos que foram prometidos? Quando o nível do mar já tiver engolido a nossa costa? Quanto mais o tempo passa, mais caro fica. E por enquanto, quem arca com isso são as pessoas mais vulneráveis, que pagam com suas vidas.
Acompanhar esses espaços de COP não é fácil. Primeiro, porque ainda hoje eles são dominados por homens de (quase nenhum) cabelo branco. Além disso, as reuniões são feitas em um inglês técnico difícil de acompanhar. Por fim, há uma dificuldade objetiva, de ordem financeira: custa caro viajar para as COPs – não raro, nós, jovens, só conseguimos a confirmação a duas semanas da conferência começar.
É muito importante – mas também difícil – estar presente. Por um lado, conseguimos dialogar com atores-chave na tomada de decisão. Por outro, temos que lidar com a pressão e a ansiedade. O mundo já está muito perto desse 1,5 ºC, o que causa todas as interferências que temos acompanhado no clima. Mesmo assim, os países desenvolvidos relutam em assumir a responsabilidade e pagar pelo que fizeram com com o nosso futuro, que agora está coberto por uma espessa camada de fumaça.
A participação da juventude tem se tornado cada vez mais forte e diversa dentro desses espaços. Temos hackeado o sistema para participar das discussões que nos dizem respeito; afinal, é do nosso futuro que estão falando.
Nós, jovens, queremos um presente e um futuro. Não somos apenas o futuro da nossa geração; somos o agora! Temos sede de mais ação, de acordos sendo implementados e de financiamento climático chegando para quem realmente precisa. Precisamos mudar essa lógica de transferir só a responsabilidade para a juventude; é preciso transferir também o conhecimento e o financiamento.
Nós vamos para as COPs porque esse também é o nosso lugar. Vamos para clamar pelo que é nosso: um mundo ecologicamente habitável. E fazemos isso porque temos esperança em um mundo melhor. Como disse Paulo Freire: “Minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela, a luta fraqueja e titubeia.”
A visão da juventude para as COPs é de inclusão, justiça climática, urgência por ações concretas e a busca por um futuro menos devastador. Somos agentes ativos da mudança, com uma esperança firme de que nossas vozes e ações resultem num impacto positivo na luta contra a crise climática. Em meio a tanta ansiedade climática, seguimos com a esperança de que teremos um futuro melhor. (ISVILAINE DA SILVA CONCEIÇÃO)