“É falta na entrada da COP. Adivinha quem vai bater? É o camisa 10 do clima. É o camisa 10 do clima.” A citação, em forma de paráfrase, é da música “Camisa 10 da Gávea”, de Jorge Ben. Explica-se: no campeonato global das negociações climáticas, a COP 30 se aproxima como uma final decisiva. E mais uma vez, há quem queira deixar a educação, uma jogadora camisa 10, no banco de reservas. Em conversas de bastidores do governo federal circula a ideia que o melhor lugar para a educação serian a Zona Verde – aquele espaço da Conferência do Clima que recebe eventos paralelos para o público geral.

A comparação escancara o tratamento dado ao ensino, como se ele fosse torcida, mas não jogador: barulhento e engajado, mas sem direito a tocar na bola. Essa lógica precisa ser questionada.

Se a COP 30 quer marcar história, que seja por ter escalado a Educação como titular

A educação climática não é um apêndice no debate climático. Ela é um pilar em qualquer resposta séria à crise que vivemos. Não existe transição justa, nem justiça climática real, sem formação, mobilização e letramento climático da população.

A educação é quem treina o time antes do jogo. Quem constrói visão coletiva, distribui as jogadas, conecta ciência com cidadania. Sem ela, as políticas são mal implementadas, as decisões não se sustentam e as populações mais vulneráveis seguem arcando com o custo da catástrofe.

Apesar de avanços pontuais nos últimos anos, a educação ainda não conquistou o protagonismo que merece nas COPs. Em Glasgow, durante a COP 26, sessões de alto nível com ministros da educação e juventudes globais destacaram a importância da educação climática. Já na COP 28, em Dubai, a UNESCO-IBE promoveu um chamado claro para que a educação seja colocada na linha de frente da resposta climática, defendendo abordagens curriculares sistêmicas. 

Essas iniciativas, contudo, se concentraram em eventos paralelos. O campo político e governamental, onde acontecem as negociações oficiais, segue pouco comprometido em transformar esse discurso em ação concreta.

Na COP 29, em Baku, investigamos como o tema estava sendo tratado na prática. Visitando 175 pavilhões da Zona Azul – onde ocorrem os debates políticos e técnicos – fizemos uma pesquisa baseada em palavras-chave como “educação”, “educação climática”, “letramento climático” e “currículo”.

O resultado foi, no mínimo, preocupante. Apenas 40 dos 175 pavilhões realizaram eventos sobre educação. Ou seja, mais de 75% nem sequer mencionaram o tema. E os 66 eventos voltados a essa temática se concentraram nos mesmos pavilhões. Essa fragmentação reforça o que já sabemos: a educação continua sendo tratada como um detalhe, não como estratégia global.

Enquanto ministros negociam metas de carbono e CEOs discutem energias renováveis, a educação – aquela que treina, forma, orienta e transforma – continua sendo tratada como coadjuvante. Quando muito, é chamada para bater lateral em algum evento paralelo, longe da pressão da grande área, longe das decisões que moldam o futuro.

O segundo tempo já começou e a crise climática está marcando gols em sequência. O risco de ultrapassar pontos de não-retorno do planeta é real e seus efeitos já são sentidos: escolas fecham por enchentes, alunos perdem aula por conta do calor extremo, comunidades veem suas vidas desmoronarem. E mesmo assim, a educação segue fora de campo.

Como anfitrião na COP 30, o Brasil pode e deve mudar esse cenário. É preciso garantir que a educação esteja na Zona Azul, nas plenárias, nas rodadas de negociação, nos orçamentos, nos planos de ação climática. Secretarias de Educação devem ter assento nos painéis ministeriais, e não apenas nos eventos da sociedade civil. Jovens, educadores, lideranças indígenas, quilombolas e científicas precisam ser envolvidos na formulação de políticas públicas integradas e financiadas.

A educação não pode seguir como plano de fundo da transição climática. Ela precisa ocupar o lugar onde sempre deveria ter estado: o coração das decisões.

Se a COP 30 quer marcar história, que seja por ter escalado a educação como titular, como legítima camisa 10 do clima. (RENATA MORAES e THALISON CORREA)