A “COP das Finanças” parece não estar entre as prioridades dos executivos dos principais bancos e gestores de ativos do mundo. Segundo o Financial Times, os chefes de instituições como Bank of America, BlackRock, Standard Chartered e Deutsche Bank não participarão da COP29 de Baku, no Azerbaijão, no mês que vem.
A baixa expectativa em torno dos resultados dessa negociação é um dos fatores que dificultam o envolvimento do Big Money nesta COP. Mesmo com o financiamento climático figurando como tema central da agenda de negociação de Baku, analistas do mercado financeiro não esperam avanços significativos nas discussões de novembro, em meio à divisão persistente entre países ricos e pobres neste tópico.
Um banco de reservas vazio para representar uma COP sem chefes de bancos e sem reservas financeiras / Foto: Pexels
Outro obstáculo para o envolvimento do setor financeiro é a eleição presidencial nos EUA, programada para o próximo dia 5, um dia depois da abertura da COP29 em Baku. Uma vitória do ex-presidente e candidato republicano Donald Trump significará novos retrocessos à agenda climática internacional, o que impactará diretamente as estratégias dessas instituições financeiras para descarbonização e net-zero.
A falta de expectativa de avanços nas discussões sobre financiamento climático também incomoda a sociedade civil organizada. A Climate Action Network (CAN International), coalizão que reúne mais de mil organizações de 130 países, publicou uma nota de cobrança aos negociadores antes da reunião pré-COP, prevista para acontecer nesta semana em Baku.
No texto, a CAN reitera a necessidade de avanços reais nas negociações sobre financiamento, em especial na definição sobre a nova meta quantificada coletiva (NCQG), as fontes de recursos e o acesso a esses fundos para ação climática nos países mais pobres e vulneráveis.
A AFP abordou as tensões que persistem dentro das negociações sobre financiamento climático na COP29. As desavenças entre governos ricos e pobres se intensificaram ao longo do ano, causando uma crise de confiança. Uma das “cascas de banana” é a definição de quem deverá contribuir para os fundos climáticos internacionais.
Enquanto os países em desenvolvimento cobram o devido pagamento por parte dos países desenvolvidos, com recursos públicos e concessionais, as nações mais ricas insistem em ampliar o pool de financiadores para incluir as economias emergentes, como China e Índia, e as instituições financeiras multilaterais e privadas.
“Essa foi a definição literal de negociação de má-fé”, reclamou Iskander Erzini Vernoit, do think tank Imal Initiative for Climate and Development, à AFP. “[A ampliação dos financiadores] ocupou tempo demais e consumiu muito oxigênio. Pelo bem de todos os países mais pobres e vulneráveis do mundo, não é justo manter tudo isso como refém”.
Ainda sobre financiamento climático, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu que o Brasil renuncie à busca de parte dos US$ 100 bilhões anuais prometidos pelos países ricos às nações mais pobres, a meta internacional atual ainda pendente. “Defendo que os países de renda média alta não disputem com aqueles de renda baixa os recursos de US$ 100 bilhões previstos dos aportes de fundos públicos de países em desenvolvimento”, disse ao jornal O Globo.
Marina também detalhou sua visão para a questão do financiamento a partir de camadas. “Na primeira, que estejam os países desenvolvidos, que têm obrigação de fazer o aporte básico. E que, numa segunda camada, estejam os países em desenvolvimento, que podem fazer a cooperação Sul-Sul, mas não necessariamente aportar para esse fundo. E a terceira camada é a da cooperação vinda de recursos privados”.