Suderj informa: o público da partida é de 87% das emissões totais de carbono no mundo. Estranho? Pois essa é a fatia de emissão de CO2 que cabe à indústria dos combustíveis fósseis, principal responsável pelas mudanças do clima. Ainda assim, os cartolas das principais companhias – como Petrobras, Shell, Exxon, BP e Total – acabam de chegar ao Rio de Janeiro, para debater formas de aumentar ainda mais a exploração de petróleo – e, se possível, na Amazônia.
Por isso, nesta segunda-feira, 23/09, organizações da sociedade civil promoveram um protesto no Boulevard Olímpico, que abriga o congresso “ROGe, Conectando Energias”. O evento é promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) ao mesmo tempo em que a cidade de Nova York recebe a Semana do Clima. Com patrocínio principal do governo federal e da Petrobras, são esperados mais de 70 mil visitantes, de 65 países, incluindo autoridades e investidores, para promover a exploração de fósseis.
Em diversos bairros do Rio de Janeiro, foram espalhados cartazes para expor a responsabilidade das grandes corporações de petróleo pela atual emergência climática
Embora o ROGe se apresente como uma plataforma inovadora, os ambientalistas consideram o evento um “Saldão do Fim do Mundo”, perpetuando práticas que ameaçam a vida no planeta. O protesto – pacífico – levou ao Boulevard Olímpico um inflável gigante com a foto dos executivos das petroleiras e a frase “Eles lucram, a gente sofre”. Em diversos bairros do Rio de Janeiro, foram espalhados cartazes para expor a responsabilidade das grandes corporações de petróleo pela atual emergência climática. A presença das petroleiras levanta questões cruciais sobre a transição para um futuro sustentável.
“Enquanto uma parte do governo brasileiro participa da Semana do Clima em Nova York, com foco em discutir ações concretas para enfrentar a crise climática, outra parte recebe os principais executivos do setor fóssil do mundo para a “Semana brasileira do petróleo e gás”, afirma o diretor para América Latina e Caribe da 350.org, Ilan Zugman. “O Brasil vem sofrendo alguns de seus piores eventos climáticos extremos, a resposta deveria ser fácil, mas até o momento não é. O país busca protagonismo internacional na agenda climática através do G20 e da COP30, então, chegou a hora de tomar suas decisões”, conclui Ilan.
Os eventos climáticos extremos não se restringem ao Brasil. Recentemente, tempestades incomuns afetaram a Europa Central e Oriental, e o tufão Yagi atingiu o sudeste asiático. “As mudanças climáticas estão gerando consequências severas, e as petroleiras parecem alheias a isso. Na COP28, em Dubai, os países signatários do Acordo de Paris concordaram com a transição energética e se comprometeram a triplicar os investimentos em energias renováveis. Mas a realidade é que as petroleiras continuam a promover a exploração de combustíveis fósseis, na contramão do que diz a ciência”, alerta Tica Minami, gerente de projetos do ClimaInfo.
A situação se agrava com a insistência da Petrobras em explorar petróleo e gás na Amazônia, uma região de altíssima sensibilidade ambiental. Em Nova York, a conservação da Amazônia é considerada parte essencial da saúde planetária. Já a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defende perfurar poços na foz do rio Amazonas, fazendo coro com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, que defendem a exploração “até a última gota”.
“As grandes empresas de petróleo deveriam priorizar investimentos para as soluções energéticas capazes de reduzir a demanda por óleo e gás e incluir em seus planos estratégicos o cronograma e os recursos para descontinuar o uso do petróleo”, diz Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente. “No setor elétrico, essas soluções já são econômicas e operantes por meio de energia solar, eólica e tecnologias de armazenamento. Não há desculpas.”
Um relatório recém divulgado pela Oil Change International e Zero Carbon Analytics, revela que existem pelo menos 86 ações judiciais ativas contra grandes corporações de petróleo, gás e carvão. O número de processos cresceu quase três vezes desde a adoção do Acordo de Paris em 2015, evidenciando um movimento global por responsabilização. Também com foco na resistência, a cidade de Haia fez história ao aprovar na semana passada, de maneira pioneira, uma lei que proíbe a publicidade de combustíveis fósseis e serviços de alto carbono a partir de 1º de janeiro de 2025.