Para contra atacar a ascensão constante das crises climática e de biodiversidade, líderes indígenas dos nove países da Bacia Amazônica formaram uma equipe de peso: o G9 da Amazônia Indígena. Formalizada em outubro de 2024 – durante a COP16 de Biodiversidade, na Colômbia – essa seleção amazônica tem intensificado sua mobilização rumo à COP30, a ser realizada em Belém, em novembro deste ano.
A formação do G9, inspirada em coalizões como G7 (grupo das principais economias ricas) e o G20 (grupo das principais economias mundiais), fortalece uma mudança na participação dos indígenas da Amazônia na dinâmica das negociações internacionais. De objetos das políticas ambientais de outros tomadores de decisão, os indígenas passam a exigir seu lugar no campo dos debates climáticos.

Os líderes indígenas reivindicam a demarcação e o reconhecimento dos territórios indígenas como uma política a ser incorporada nas metas climáticas de todos os países
“O G9 não é uma nova instituição com sede ou burocracia, mas um espaço vivo de articulação, decisão coletiva e ação estratégica”, diz Angela Kaxuyana, representante da Coiab, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, rede que representa o Brasil no grupo. A Coiab compõe o time ao lado da Cidob, da Bolívia; da Opiac da Colômbia; da Confeniae, do Equador; da APA, da Guiana; da Foag, da Guiana Francesa; da Aidesp, do Peru; da OIS, do Suriname; e da Orpia, da Venezuela. Juntas, essas organizações englobam mais de 511 povos indígenas.
O G9, como explica a representante do Coiab, é um espaço horizontal e uma frente política unificada, de atuação estratégica, coordenada e transnacional, onde todas as decisões são definidas por consenso e todos estão em pé de igualdade. A coordenação do grupo é colegiada e rotativa; atualmente, a liderança temporária é da Opiac e da Coiab, em função da centralidade que Colômbia e Brasil têm como países-sede das conferências de biodiversidade e clima neste ciclo de 2024 e 2025.
Entre os dias 12 e 14 de fevereiro deste ano, a coalizão se reuniu em Manaus para planejar a agenda do movimento e definir os diferentes cenários globais onde planeja participar. No encontro, a aliança assinou um acordo iniciando sua preparação para a COP30. Os líderes indígenas reivindicam a demarcação e o reconhecimento dos territórios indígenas como uma política a ser incorporada nas metas climáticas de todos os países (as NDCs), e também propõe o financiamento direto a organizações e sistemas de governança indígenas, sem intermediários. Por fim, solicitam ser consultados previamente sobre propostas de projetos que afetem seus territórios, como iniciativas do mercado de carbono, grandes obras ou novas políticas públicas.
Há um ponto a mais: a aliança reivindica a copresidência indígena da COP30. “Seria um ato de reconhecimento das nossas contribuições para a vida da Amazônia e do planeta”, afirma Patricia Suarez, representante da Organización Nacional de los Pueblos Indígenas de la Amazonía Colombiana (Opiac). “Os conhecimentos indígenas não são folclore, mas são ciências vivas e que mantiveram por décadas o equilíbrio da Terra.”
A proposta do G9 é garantir que os próprios povos indígenas participem diretamente das negociações sobre o clima no mundo, sem depender de governos ou outras instituições para representá-los. “Já estamos sentindo as consequências devastadoras em nossos territórios: secas extremas, alagamentos, queimadas e a constante ameaça de mega empreendimentos extrativistas”, lembra Angela Kaxuyana, da Coiab.
O próximo encontro acontece entre 2 e 6 de junho, durante a pré-COP indígena em Brasília.