A partida final do mundial de Baku deixou as torcidas dos países subdesenvolvidos bastante decepcionadas com a nova meta de financiamento climático, a NCQG. Agora, essas nações vão depositar suas esperanças no campeonato de Belém, a COP 30, em novembro de 2025. E é para falar da nossa amada cidade-sede que estreamos o Diário de Belém, coluna mensal assinada pelo Imazon, instituição científica com sede no Pará.

A coluna entra em campo falando da qualidade de vida na capital paraense, que saberemos se melhorou ou piorou depois da COP, por meio do Índice de Progresso Social (IPS). Qual seria a aposta de vocês? Será que nós, moradores, teremos esse legado de melhoria do nosso bem-estar? Por enquanto, o que podemos fazer é mostrar a situação atual. 

Belém joga mal em acesso ao conhecimento básico, ficando em 4.337º lugar, escapando por pouco do rebaixamento

A escolha tática pelo IPS se deu porque, atualmente, ele é o índice mais completo para avaliar e comparar a qualidade de vida em escala nacional, trazendo dados de áreas como saneamento, moradia, segurança, qualidade da internet, meio ambiente e direitos humanos.

Além disso, sua metodologia avalia exclusivamente dados de resultados sociais e ambientais, sem a inclusão de indicadores econômicos. Isso porque o crescimento econômico sem o progresso social pode resultar em degradação ambiental, em aumento da desigualdade e em conflitos sociais. Afinal, o nosso bem-estar está muito mais ligado à qualidade dos serviços que os municípios nos entregam do que ao PIB ou à renda per capita deles.

O IPS é usado por vários países há dez anos. No Brasil, ele foi aplicado para todos os 5.570 municípios pela primeira vez em 2024. Cada cidade foi avaliada com base em 53 indicadores e ganhou uma nota de 0 a 100, do pior ao melhor desempenho. Isso nos mostra, por exemplo, que uma cidade pode estar jogando muito bem em saúde, mas perdendo partidas em segurança.

No quesito qualidade de vida, Belém ocupa a liderança entre todas as cidades paraenses / FOTO MÁRCIO NAGANO – IMAZON


Com as mãos na taça estadual

Com IPS de 62,51, Belém foi a única das 144 cidades paraenses a obter uma nota acima de 60,72, ficando na liderança do Parazão no quesito qualidade de vida. A melhor jogada da capital é no acesso à educação superior, onde obteve nota 71,05, a 30ª melhor do país. Esse componente avalia os indicadores de empregados com ensino superior, mulheres empregadas com ensino superior e a nota média no Enem.

A segunda melhor jogada de Belém é no critério de liberdades individuais e de escolhas, que avalia os indicadores de acesso a cultura, lazer e esporte; praças e parques em áreas urbanas, além de trabalho infantil e gravidez na adolescência. Nesse componente, a capital obteve nota 67,33, ficando entre os 100 melhores municípios do país.

Com o investimento para a COP, espera-se que a cidade, famosa pelo mercado Ver-o-Peso, melhore no campeonato de 2025 / FOTO MÁRCIO NAGANO – IMAZON

No Brasileiro, quase fora da fase de grupos da Libertadores 

Erguer a taça do estadual é bom, mas botar as mãos no troféu do Brasileirão não tem preço. Se o IPS dos 5.570 municípios fosse como o Campeonato Brasileiro de Futebol, Belém pegaria as últimas vagas para disputar a fase de grupos da Libertadores. Isso porque a capital paraense ficou com a colocação 1.044 no ranking nacional de qualidade de vida (a conta é pela proporcionalidade, claro).

Apesar de ser destaque nacional em alguns fundamentos, Belém seria rebaixada no componente de inclusão social, que analisa os indicadores de paridade de gênero e paridade racial na Câmara Municipal, além de violência contra indígenas, mulheres e negros. A capital paraense conquistou míseros 32,13 pontos, ficando entre os 500 piores municípios do país, na posição 5.153.

Belém também jogou muito mal no campeonato de acesso ao conhecimento básico, componente em que escapou por pouco do rebaixamento. O critério leva em conta os indicadores de abandono no ensino fundamental, abandono no ensino médio, evasão no ensino médio, distorção idade-série no ensino médio, Ideb do ensino fundamental e reprovação escolar no ensino fundamental. A pontuação belenense foi 64,40 nesse componente, o que deu à cidade a colocação número 4.377 no Brasil.

A capital paraense também precisa melhorar as jogadas nos componentes de moradia, e no de nutrição e cuidados médicos básicos, onde não garantiria nem uma vaga na Sul-Americana.

Rebaixada na Copa das Capitais

E se a disputa fosse apenas entre capitais? Se esse fosse o campeonato, o coração do torcedor ia ser posto à prova: a capital paraense ficaria na 4ª pior colocação em qualidade de vida contra esses times bem-estruturados. Estaria na zona de rebaixamento, junto com Rio Branco, Maceió, Macapá e a lanterninha Porto Velho. A “Copa das Capitais” ficaria com Brasília, que garantiria vaga na fase de grupo da Libertadores, ao lado de Goiânia, Belo Horizonte, Florianópolis e Curitiba.


Agora, nos resta saber se com os investimentos no time para a COP 30 conseguiremos subir na tabela do Brasileirão de qualidade de vida em 2025 e ficar fora do rebaixamento na Copa das Capitais. De uma coisa não temos dúvida: a nossa torcida está organizada e vai cobrar resultados. (FERNANDA DA COSTA)

Compare Belém com os outros municípios do país no mapa do IPS

Quer saber mais sobre o índice? Leia aqui o resumo executivo e o relatório completo
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MÚSICA PARAENSE DA RODADA

Se quem faz três gols no Brasileirão pede música no Fantástico, aqui no Diário de Belém vamos dar essa mesma oportunidade para os artilheiros climáticos. Mas com uma diferença: tem que ser música paraense!

E o goleador desta coluna de estreia joga no time da casa: é o coordenador do IPS Brasil e cofundador do Imazon, Beto Veríssimo. O primeiro golaço do cientista foi lançar o IPS Amazônia ainda em 2014, no mesmo ano em que o professor Michael Porter, da Harvard Business School, criou o IPS global. Essa foi a primeira aplicação do índice em escada sub-nacional do mundo e analisou a qualidade de vida nos 772 municípios da Amazônia Legal.

O segundo gol foi mostrar, com as publicações seguintes do IPS Amazônia, em 2018, 2021 e 2023, que os municípios que mais desmatavam eram os que apresentavam os piores índices de bem-estar. Mais evidências científicas de que a derrubada da floresta não leva ao progresso social.

E o terceiro foi lançar, neste ano, o primeiro IPS Brasil, que possibilitou a análise e a comparação da qualidade de vida em todos os 5.570 municípios do país. No site do índice nacional, é possível inclusive ver a situação das cidades em comparação com um grupo de municípios com a mesma faixa de PIB per capita, instrumento de gestão para que uma possa aprender com a outra.

Então, vamos de música? A canção paraense escolhida pelo pesquisador foi “Pacará”, composição de
Paulo André e Ruy Barata: