Enquanto o mundo se prepara para a COP30, em Belém, uma movimentação já acontece nas margens da cidade. A COP das Baixadas, uma conferência popular que reúne comunidades periféricas e ativistas, realiza sua próxima edição a partir deste sábado (22), reafirmando que o debate climático precisa incluir as periferias e considerar as desigualdades.
Criada antes mesmo de Belém ser escolhida como sede da conferência da ONU, a iniciativa busca dar visibilidade às periferias amazônicas e aos modos de resistência que nascem nestes territórios, reunindo movimentos sociais, artistas, pesquisadores e lideranças locais para discutir justiça climática. As baixadas são áreas geograficamente mais baixas em Belém que correspondem em grande parte às periferias da cidade. Além da característica física, elas carregam também um sentido histórico e de identificação territorial para quem vive nesses espaços.

As Yellow Zones, ou zonas amarelas, surgiram como contraponto popular às zonas Verde e Azul, espaços oficiais dos encontros da ONU
Nas moradias, convivem casas de alvenaria e de madeira, com palafitas predominando em determinados trechos. Como explica a ativista Ruth Ferreira, co-idealizadora da COP das Baixadas, o evento é “essencial para mostrar que a justiça climática só é real quando leva em conta as desigualdades sociais, raciais, de gênero e territoriais”.
Neste ano, a COP da periferia amazônica chega à sua terceira edição, assumindo um caráter mais estratégico em razão da aproximação da COP30 e da oportunidade das comunidades periféricas fazerem parte dos debates climáticos internacionais. Elas fazem isso através das Yellow Zones, ou Zonas Amarelas, que surgiram como contraponto às zonas Verde e Azul, espaços oficiais dos encontros da ONU.
“Na COP27 já tínhamos percebido que a população não era de fato envolvida nos espaços oficiais. Na COP28, quando conseguimos levar a nossa primeira delegação, esse sentimento ficou ainda mais evidente. Como já havia a possibilidade da COP30 acontecer em Belém, pensamos que era fundamental criar um espaço que garantisse a participação real dos nossos territórios, para que esse momento não fosse vazio, mas sim uma oportunidade de visibilizar e fortalecer as nossas lutas”, diz Ferreira.
Os cursos e debates acontecem em quatro localidades da cidade – a biblioteca comunitária Barca Literária, na Vila da Barca, o centro cultural Gueto Hub e o espaço EcoAmazônias, no bairro do Jurunas e o Espaço Cultural Ruth Costa, no bairro de Águas Lindas – todas na região periférica. A proposta é que as Yellow Zones se consolidem como espaços permanentes em todas as futuras cidades-sede da COP.
Como explica Ferreira, a COP das Baixadas é um espaço pensado para quem “sente os efeitos do clima na pele”. A ativista destaca “a força da mobilização comunitária, o papel da cultura como ferramenta de resistência e a produção coletiva” como marcas dessa conferência paralela, que hoje reúne 15 organizações periféricas do ativismo climático.
“Essa edição também é uma grande celebração do que temos construído coletivamente nesses três anos de atuação”, afirma Ferreira. A primeira edição, em 2023, foi um marco por afirmar o papel das periferias amazônicas diante da crise climática. O ano seguinte consolidou o evento ao trazer organizações nacionais e internacionais para dialogar com a realidade das baixadas de Belém. Em 2025, a conferência é ao mesmo tempo celebração, denúncia e fortalecimento do que já existe e resiste.
Essa edição acontece nos dias 22, 23 e 24 de agosto. A programação inclui rodas de conversa, oficinas, palestras e até batalha de hip-hop. A programação completa pode ser conferida aqui.