A segunda semana da COP30 começa em um cenário tenso e imprevisível. O contexto geopolítico permanece desfavorável, enquanto o multilateralismo está sob os holofotes, pressionado a provar sua capacidade de se reinventar. As discussões técnicas da primeira semana — já profundamente politizadas — deixaram claro que a vontade política será o fator decisivo para determinar se avançamos ou retrocedemos.
É justamente na etapa de alto nível, agora em curso, que os ministros e chefes de delegação precisam transformar semanas de negociações especializadas em decisões que respondam à urgência do momento climático global. É a hora da decisão.
O contraste é evidente: enquanto a base social demonstra vigor, os países com mais responsabilidade seguem aquém do necessário
Apesar das dificuldades impostas sobretudo pelos países desenvolvidos, que seguem impondo limites à ambição climática e travando avanços em temas estruturantes, a primeira semana trouxe sinais importantes. A agenda da sociedade civil esteve não apenas presente, mas ressonante: a Cúpula dos Povos e a mobilização social em Belém deram força política às negociações e ajudaram a consolidar reivindicações históricas, incluindo os dois roteiros mencionados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cúpula de Líderes, dias antes da abertura oficial da conferência. O contraste é evidente: enquanto a base social demonstra vigor, os países com mais responsabilidade e capacidade seguem aquém do necessário.
Nesta segunda semana, a convergência entre técnica e política é determinante. O que está sobre a mesa exige coragem e compromisso real com a implementação: responder à lacuna de emissões das NDCs, incluindo medidas concretas para eliminar a dependência dos combustíveis fósseis; avançar no financiamento climático com uma nova meta para adaptação, progressos no roteiro para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano e algum encaminhamento sobre o Artigo 9.1 do Acordo de Paris; consolidar um pacote robusto para natureza e florestas; e estabelecer indicadores de adaptação que permitam monitorar resultados de maneira transparente. Nada disso será entregue sem vontade política evidente.
Belém tornou-se, assim, o palco onde se confrontam duas forças: a pressão social que pede ambição e justiça climática, e a resistência dos países desenvolvidos em assumir plenamente suas responsabilidades históricas e legais. No cruzamento dessas forças está o destino desta COP. A segunda semana não é apenas uma continuidade da primeira — é o momento em que os governos mostram se ouviram a ciência, os povos da Amazônia e a sociedade global que marchou nas ruas. Agora saberemos se a COP30 será lembrada como o ponto de virada ou como mais uma oportunidade perdida.