Já é tempo de COP30: cerca de 50 mil pessoas vão passar por Belém até 21 de novembro. Gente de todo o mundo poderá ver e viver a Amazônia, no seu clima e em sua cultura. Mas e depois? Como essas pessoas poderão saber o que acontece por aqui? O Observatório das Florestas Públicas é uma ferramenta criada pelo movimento Amazônia de Pé e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), por meio do qual será possível permanecer de olho nas florestas. As informações estão disponíveis em português, inglês e espanhol.
A iniciativa democratiza o acesso a informações sobre uma parte da Amazônia ainda sem proteção: as áreas públicas que pertencem ao Estado brasileiro, mas que ainda não estão categorizadas como Terras Indígenas, quilombolas, reservas ou parques. Hoje, essas áreas chamam-se Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs). E não é pouca coisa. As FPNDs correspondem a cerca de 50 milhões de hectares na Amazônia – o que equivale a uma área do tamanho da Espanha – de florestas sem proteção.
Com proteção adequada, as FPNDs podem continuar armazenando cerca de 5 bilhões de toneladas de carbono. A destruição e a falta de proteção dessas áreas poderá levar o clima do Brasil, e consequentemente do mundo, ao colapso. Se não tivermos mais as florestas públicas protegidas, cerca de 19 bilhões de toneladas de CO₂ podem ser liberadas na atmosfera, o equivalente a 51% das emissões globais estimadas para 2024.
As FPNDs armazenam cerca de 5 bilhões de toneladas de carbono. FOTO FILIPE PEÇANHA/FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS
Desmatamento, queimadas e alto risco de grilagem em florestas públicas são as principais ameaças a essas áreas. O último boletim do Observatório das Florestas Públicas, lançado trimestralmente, revela que mais de 62 mil hectares foram desmatados em 2025 nas FPNDs. Este número só é superado pelo desmatamento em imóveis rurais de médio a grande porte, o que acende um alerta extremo sobre a vulnerabilidade dessas áreas sem monitoramento e destinação. O estado do Amazonas tem liderado o desmatamento de FPNDs, com 62% do total na Amazônia até o momento, o equivalente a 38.640 hectares.
As queimadas no primeiro semestre de 2025 também afetaram as FPNDs. Entre janeiro e julho de 2025, 59.780 hectares dessas florestas foram atingidos por queimadas. A maior parte do fogo, cerca de 75%, ocorreu em FPNDs federais. O estado do Pará lidera com mais de 59% da área queimada no período, cerca de 30.796 hectares.
O terceiro desafio enfrentado é a crescente área de CAR (Cadastro Ambiental Rural) sobreposta às FPNDs da Amazônia. São cerca de 10 milhões de hectares com alto risco de grilagem, ou seja, grandes áreas registradas como propriedades privadas, em cima de florestas que são públicas. Um passo fundamental para impedir este roubo de terras é cancelar os CARs que incidem sobre essas florestas e impossibilitar a grilagem em terras públicas.
Os desafios que essas florestas públicas enfrentam na Amazônia precisam vir a público. A resposta para eles já existe e é ancestral: em florestas sob responsabilidade de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e populações tradicionais contemplamos a Amazônia de Pé. E é a partir desses territórios que será possível enfrentar e remediar os efeitos da crise do clima. E claro, também precisamos agir por meio da política. Nas ruas de Belém serão coletadas assinaturas de brasileiros e brasileiras para que se unam aos mais de 400 mil cidadãos que querem que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Amazônia de Pé chegue ao Congresso Nacional e seja votado. São necessárias 1,5 milhão de assinaturas físicas para iniciar os trâmites legais em Brasília.
A Amazônia é o seu povo. E esses guardiões da floresta estarão pelas ruas de Belém, porque não se pode dar um passo adiante na proteção dessas áreas sem que essas populações sejam ouvidas. Os governos federal e estaduais devem ouvir a voz da Amazônia e aproveitarem a atenção global da COP30 para protegerem 50 milhões de hectares de florestas públicas. Assim, o Brasil transmitirá seu compromisso ao mundo de que governos, organizações não governamentais e sociedade civil estão de olho na floresta – para que ela, dessa forma, permaneça ainda por muito tempo de pé.