Desde o início das Conferências das Partes (COPs), na década de 1990, a agenda climática e a de biodiversidade seguiram caminhos paralelos, muitas vezes desconectados. Essa dicotomia fica evidente mesmo em países como o Brasil, onde a maior parte das emissões de gases de efeito estufa decorre da degradação ambiental e do desmatamento e não do uso de combustíveis fósseis.
Clima e conservação tinham espaço próprio, com eventos globais estruturados de forma isolada, até as últimas COPs, onde a busca por sinergias ganhou força. O Brasil foi um dos protagonistas desse movimento.
Áreas naturais bem conservadas fornecem serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima
A percepção de que áreas naturais bem conservadas são produtivas e fornecem serviços ecossistêmicos (como a regulação do clima, a proteção contra eventos extremos e a segurança hídrica) tem impulsionado uma abordagem mais integrada. A ideia de que áreas naturais bem conservadas ajudam no clima e protegem contra eventos extremos tem ajudado a aproximar as agendas do clima e da biodiversidade.
Apesar disso, a biodiversidade segue sendo a face negligenciada da crise ambiental. Os recursos destinados à conservação ainda são escassos e, muitas vezes, mal direcionados. Enquanto a transição energética e tecnológica atrai investimentos e incentiva setores econômicos, a proteção da natureza ainda é vista, por muitos, como entrave ao desenvolvimento.
Mas toda regra existe para ser quebrada. O município de Antonina no litoral do Paraná, é um exemplo de sucesso – uma verdadeira fábrica de serviços ecossistêmicos. Com 3,3 mil hectares, a Reserva das Águas, criada em 1994 e gerida pela SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), abastece mais de 20 mil pessoas. A proteção da área garante água abundante e de excelente qualidade, mostrando que a conservação é o melhor jeito de evitar crises hídricas.
Reconhecendo esse valor, a gestão municipal aprovou uma lei de pagamento por serviços prestados por áreas naturais formalmente protegidas, garantindo recursos para sua manutenção. Além disso, Antonina é beneficiada pelo incremento do ICMS Ecológico do Paraná e ainda estimula o uso público de áreas naturais como motor de empregos, renda e uma economia de caráter restaurativo.
O exemplo, no entanto, não se repete em boa parte do país. São Paulo e Curitiba enfrentaram recentemente crises hídricas de proporções dramáticas, beirando o colapso do abastecimento. Porto Alegre viveu situação ainda mais crítica, com enchentes que devastaram a cidade. Em todos esses casos, a ausência de remanescentes naturais em encostas e margens de rios foi fator determinante para a gravidade dos impactos.
Apesar das evidências sobre a relação entre a degradação ambiental e a indisponibilidade de serviços da natureza, a lógica dominante ainda relativiza esses riscos. Precisamos, com urgência e responsabilidade, valorizar iniciativas inovadoras de sucesso já comprovado – e o Brasil tem inúmeras delas –, além de direcionar melhor os investimentos em conservação e restauração de áreas naturais.