Elas ganham menos, são menos valorizadas que seus pares homens e, quando conseguem jogar, são muitas vezes limitadas às posições que ninguém quer. Essa é a realidade das mulheres dentro e fora das quatro linhas. Embora muitos esforços venham sendo feitos em diversos países, as questões de gênero ainda se manifestam profundamente no setor de energia e impõem desafios adicionais no contexto da transição energética justa. 

Esse cenário é abordado no estudo Integrating the Gender Component into Energy Policies Across the G20 Countries, elaborado pelo Instituto E+ Transição Energética. O estudo foi desenvolvido no âmbito da Parceria Energética Brasil-Alemanha, uma plataforma de diálogo político de alto nível entre o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Ministério Federal da Economia e Energia (BMWE) da Alemanha, implementada pela GiZ.

Para avançar na equidade de gênero no setor público e político, é essencial formular políticas que garantam a presença significativa de mulheres em cargos de alto nível, inclusive com o uso de cotas

O estudo analisa como os países  do G20 incorporam a perspectiva de gênero em suas políticas e iniciativas no setor de energia. Os resultados indicam que, apesar do reconhecimento crescente da importância de integrar a perspectiva de gênero nas políticas energéticas, a implementação dessas estratégias ainda é desigual e, em cerca de metade dos países do G20, carece de apoio institucional efetivo.

Esse diagnóstico varia significativamente entre as diferentes regiões do mundo. Países do Sul Global, segundo a UNCTAD, concentram as piores classificações, enquanto os do Norte tendem a apresentar melhores condições de integração, sensibilidade e transformações sociais em favor da igualdade entre os gêneros no setor energético. Há, no entanto, exceções em ambos os casos, com países do Sul entre as melhores posições (México e África do Sul) e alguns do Norte entre as piores (Coreia do Sul, Japão e Itália). 

O Brasil fica no meio da tabela, sem grandes ambições no campeonato, mas fora da zona de rebaixamento. A integração das questões de gênero nas políticas do setor de energia brasileiro está em desenvolvimento, com progressos importantes nos últimos dois anos. Não só temos cada vez mais “Martas” nas organizações, como também mais garotas interessadas em jogar. 

O estudo aponta a criação de diversos programas em favor do treinamento e educação de mulheres nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, bem como na promoção da igualdade no mercado de trabalho do setor. Ganham relevância ações como a criação do Comitê Permanente de Questões de Gênero no Ministério de Minas e Energia e o Selo de Equidade de Gênero e Raça, uma iniciativa conjunta entre os ministérios das Mulheres, do Trabalho e Emprego, e da Igualdade Racial.

Mas resultados levam tempo e falta estrutura para garantir a participação efetiva das mulheres. Ainda não há políticas dedicadas a impulsionar a representação feminina nos ministérios ou em posições de liderança em empresas e outras organizações do setor. Virar esse jogo pressupõe ações de empoderamento econômico que priorizem a empregabilidade das mulheres no setor de energia por meio da educação, capacitação, treinamento, retenção e promoção, ao mesmo tempo em que se cultiva uma cultura organizacional mais inclusiva. 

No que diz respeito ao acesso e à acessibilidade à energia, o foco está em garantir que as políticas energéticas e as infraestruturas também sejam eficazes para as mulheres. Isso inclui aprimorar a coleta de dados, tornar mais transparentes e justos os processos de definição de tarifas, ampliar o financiamento de projetos e projetar infraestruturas acessíveis, economicamente viáveis e inclusivas – especialmente para mulheres de comunidades vulneráveis.

Para avançar na equidade de gênero no setor público e político, é essencial formular políticas que garantam a presença significativa de mulheres em cargos de alto nível, inclusive com o uso de cotas. Já no contexto da integração da perspectiva de gênero, é necessário adotar medidas estruturais que fortaleçam as capacidades institucionais e assegurem que as políticas energéticas considerem as necessidades e os desafios enfrentados pelas mulheres desde sua elaboração até a implementação e o monitoramento.