O que está rolando na foz do Amazonas não é jogo limpo. É marcação cerrada do velho esquema colonial-capitalista, tentando meter bola na rede com o discurso de “soberania energética”, mas jogando sujo com o meio ambiente e com os povos da floresta. É o time do capital entrando em campo com chuteiras de aço pra destruir territórios onde os Karipuna, Palikur e Galibis jogam há séculos com sabedoria e resistência.
O governo Lula, que prometeu futebol bonito com justiça social e ambiental, está prestes a dar um passe errado para o adversário. Autorizar a prospecção de petróleo na Margem Equatorial é mais do que erro técnico, é deixar o campo aberto para o lobby do petróleo, que dribla o colapso climático e continua ditando as regras do jogo. Hoje mesmo, se não houver uma liminar, a ANP vai leiloar 172 blocos de óleo e gás – 47 deles na foz do Amazonas -, e isso durante o segundo dia da Conferência de Bonn, na Alemanha, onde todos os países filiados à UNFCCC estão reunidos para debater, entre outros temas, o fim dos combustíveis fósseis.

Lula precisa parar de ouvir os acionistas da Petrobras para escutar o grito da arquibancada que vem da floresta
Não é só o presidente que precisa de puxão de orelha. É todo um esquema tático chamado “desenvolvimentismo extrativista” – uma formação que finge jogar para o povo, mas joga mesmo é para o mercado. Promete gols de distribuição social, mas ignora as faltas violentas contra a natureza e os povos originários. Como alerta o pensador Michael Löwy, esse modelo não cabe no campeonato da vida, pois capitalismo e meio ambiente jogam em times opostos.
Falar em “extrativismo responsável” ou “capitalismo verde” não cola. E na Foz do Amazonas, o gramado é escorregadio: as correntes são imprevisíveis, falta infraestrutura básica e o licenciamento ambiental passa por cima dos povos locais, que sequer foram consultados. Enquanto isso, a Petrobras diz que precisa furar poço pra bancar políticas públicas. Mas, olhando o placar do jogo, vemos que só 0,4% dos investimentos entre 2012 e 2022 foram pra energia limpa. O resto? Bola pro fundo do poço fóssil. É como ter o melhor atacante e deixá-lo no banco.
A verdade é que a Petrobras está jogando como se ainda estivesse nos anos 1970, ignorando as novas regras do jogo (como o Acordo de Paris) e marcando gol só a favor de acionistas. É uma camisa pública usada para correr atrás de lucro privado, sem plano de transição, sem tática nova, sem vontade de mudar o placar. E tem quem se cale diante disso, inclusive parte da academia: cientistas que foram por livre e espontânea verdade para o banco de reserva da verdade, por medo de perder verba ou cargo.

O que está em jogo na foz do Amazonas não é só um pedaço do mapa. É o modelo de jogo que vamos adotar: vamos continuar cruzando bola para a área do capital, ou vamos construir um time que jogue para o povo e o planeta?Lula precisa parar de ouvir os acionistas e escutar a arquibancada da floresta. Soberania energética verdadeira tem que ser justa, limpa e popular, com geração descentralizada, participação popular e reparação aos donos legítimos desse campo: os povos originários.
A torcida precisa acordar, esse jogo tem custo alto, e quem vai pagar são os de sempre. O lucro vai pra elite do camarote, enquanto a conta vai pra base, pra quem está no alambrado. Chega de aplaudir falso progresso. É hora de marcar em cima, organizar a defesa da Amazônia e partir para o ataque. Defender a foz do Amazonas é jogar pelo futuro, pelo direito de existir de povos inteiros e por um modelo de sociedade onde a vida vale mais do que o preço do barril.
Esse jogo é decisivo. E não dá pra ficar no banco.