Bem, inimigos do aquecimento do globo, está começando mais uma COP. E a competição será jogada em condições mais adversas do que aquelas que a seleção brasileira encontra em partidas na altitude de Quito, ou de La Paz. Afinal de contas, o clima está em colapso. Lembra das enchentes no Rio Grande do Sul, das secas na Amazônia, dos incêndios na Califórnia? Pois é, o jogo mudou. Mas quem discute esse problema? Quem dita as regras desse novo cenário?
Comecemos pelo básico: COP é uma sigla, em inglês, para Conferência das Partes. E que partes são essas? São os 197 países, mais a União Europeia, que subscreveram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, também em inglês). Essa convenção tem como principal objetivo evitar a interferência do homem no sistema climático. As COPs são reuniões anuais dos países para decidir como farão isso – um pouco como se o futebol estivesse em crise, e a Fifa fizesse uma reunião com todas as confederações, de todos os países, para decidir como melhorar o sistema do VAR, ou como impedir a interferência das bets.

A COP30, a ser realizada em Belém, em novembro, marca os dez anos da assinatura do Acordo de Paris (Arte: Maia Mirian)
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OS JOGADORES
Pense nos 48 países que vão disputar a próxima Copa do Mundo, em 2026. Agora multiplique por quatro. Bem vindo à barafunda geopolítica que é uma COP: 198 partes (197 países e a União Europeia), além de observadores. Entre os observadores estão agências da ONU, organizações intergovernamentais e organizações não governamentais. Esses grupos incluem representantes do setor privado, ambientalistas, cientistas e povos tradicionais, entre outros. Parafraseando o famoso locutor, “Haaaaaaja negociação!”
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AS REGRAS DO JOGO

As regras do jogo climático, por assim dizer, foram estipuladas em 2015, quando os países subscritos à UNFCCC assinaram o famoso Acordo de Paris. O acordo tem três grandes objetivos:
– Limitar o aquecimento da Terra bem abaixo de 2oC em relação aos níveis pré-industriais, fazendo esforço para limitá-lo a 1,5oC.
– Aumentar a capacidade da humanidade de se adaptar aos impactos da mudança do clima. Ou seja, criar mecanismos que evitem desastres como os que ocorreram no Rio Grande do Sul, em 2024.
– Alinhar os fluxos financeiros globais com uma economia de baixas emissões e alta resiliência. Em outras palavras: dinheiro. Não se resolve um problema global, causado sobretudo pelos países mais ricos, sem que esses países ricos financiem uma solução.
O Acordo de Paris marcou a primeira vez em que todos os países se comprometeram a apresentar suas próprias metas climáticas (conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas, NDCs, na sigla em inglês). A partir de então, cada país deve apresentar a sua NDC com a maior ambição possível, assim como um time apresentando sua escalação antes do jogo. A soma dos esforços de cada país deve ser suficiente para limitar o aquecimento da Terra a 1,5oC. Só que até agora essa conta não tem fechado. É falta de fair play…
Aliás, se quiser entender melhor o que é NDC, dá uma olhada nesse vídeo aqui:
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O CAMPEÃO
A COP é uma Copa do Mundo em que os países não disputam para derrotar os outros, mas para chegar a um acordo com os outros. O problema é que esse acordo precisa ser unânime, subscrito por todas as 198 partes. Tudo é feito por consenso — ou seja, um compromisso só é aprovado quando ninguém se opõe, de forma a que ele possa valer para todos os países signatários. Sentiu o drama? Em outras palavras, a COP até lembra uma Copa, mas com um objetivo bem diferente: ao contrário do que ocorre no futebol, não é um único país que precisa alcançar a vitória. É o mundo que precisa sair com a vitória. Se não, todos perdem.
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COP30: A COP DAS COPS?

A COP30, a ser realizada em Belém, no Pará, em novembro deste ano, carrega uma série de expectativas. Em primeiro lugar, ela marca os dez anos da assinatura do Acordo de Paris. E por que isso é importante? Porque os países signatários do acordo se comprometeram a apresentar, agora em 2025, suas metas climáticas para os próximos dez anos. Segundo cientistas, até 2025 o mundo precisa cortar em 65% as emissões de gases de efeito estufa. Cabe às NDCs refletir isso.
Se quiser saber mais sobre a COP30, dá uma olhada no álbum de figurinhas que a Central da COP preparou com todas as regras do jogo e a lista dos principais atletas do clima.
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A SELEÇÃO CANARINHO

O Brasil tem tanta tradição na luta ambiental quanto no futebol. É uma liderança climática, com potencial para fazer avançar a implementação de energias renováveis, a descarbonização da economia e a conservação da biodiversidade. Mas a maior contribuição que o país pode dar para o enfrentamento da crise climática é tratar da principal causa do problema: os combustíveis fósseis — petróleo, carvão mineral e gás natural, que respondem por absurdos 87% da emissão global de CO2. Na COP28, os países concordaram com a necessidade de se afastar de maneira justa, ordenada e equitativa dos combustíveis fósseis. Mas ainda não se sabe como isso será implementado. Cabe ao Brasil liderar a negociação de um cronograma e definir um caminho para a inevitável transição. Pra cima deles!
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Quer saber melhor como funciona uma a COP? A gente explica (e ainda te faz rir) nesse vídeo aqui: