Primeiro a bola dentro: segundo dados do Observatório do Clima, o Brasil reduziu suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 12% em 2023, impulsionado principalmente pela queda no desmatamento. Agora a bola fora: Apesar do avanço, o país ainda figura entre os cinco maiores emissores do mundo, com grande parte das emissões associada ao uso da terra, especialmente ao desmatamento e à degradação de florestas na Amazônia.

Para garantir a vaga do Brasil no campeonato das reduções de CO2, o Governo Federal assumiu a meta de desmatamento zero até 2030. Mas, para transformar essa promessa em vitória, será preciso entrar em campo com políticas socioambientais em várias frentes. Nesse contexto, um dos principais desafios para transformar essa meta em realidade é o Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050), uma peça chave no esquema tático brasileiro.

O PNL 2050 é agenda política climática e social que vai determinar o padrão de ocupação do território e o perfil de emissões do país ao longo das próximas décadas

Em fase de elaboração pelo Governo Federal, o PNL tem a missão de traçar os rumos da infraestrutura de transporte de cargas no Brasil para os próximos 25 anos, detalhando as obras que serão executadas. Quais são as cargas que o Brasil quer priorizar? Escoar grãos para exportação? Garantir o abastecimento interno? Fortalecer cadeias produtivas regionais? Essas são algumas das questões que o PNL 2050 tentará responder.

Como parte desse processo, no dia 26 de maio, em Belém (PA), o Ministério dos Transportes promoverá um debate regional sobre o PNL 2050. O evento faz parte de uma série de encontros realizados em diferentes capitais do país, que já passou por cidades como São Paulo, Curitiba e Cuiabá.

Dependendo do que constar no PNL, os investimentos em infraestrutura podem beneficiar alguns poucos setores ou gerar benefícios para a qualidade de vida de toda a população. O fato é que o plano tem um enorme potencial de impacto, podendo ser tanto uma goleada em favor da sustentabilidade quanto um desastre para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Além de uma simples agenda técnica, o PNL 2050 é agenda política, climática e social. Ele é a jogada decisiva que vai determinar o padrão de ocupação do território e o perfil de emissões do país ao longo das próximas décadas.

Em ano de preparação para a COP 30, quando a Amazônia será o centro da maior disputa climática global, o Brasil ainda comete erros táticos cruciais no jogo do planejamento da logístico de cargas. A forte dependência do modal rodoviário — meio de transporte mais caro e poluente — representa uma jogada arriscada que coloca a floresta em risco.

As grandes obras de infraestrutura como hidrovias, ferrovias e rodovias voltadas apenas ao comércio exterior, impulsionadas pela expansão da plantação de commodities, impactam diretamente a região da Amazônia Legal. O desmatamento é evidente, avançando das rodovias para áreas de floresta e territórios de povos originários.

A escolha da Amazônia, maior floresta tropical do mundo, como sede da COP 30, não é apenas simbólica. Pela primeira vez, a floresta estará jogando em casa. A decisão reforça a necessidade de o Brasil alinhar suas políticas públicas — especialmente as que impactam o uso da terra e os ecossistemas amazônicos — às metas climáticas globais.