Duzentos e cinquenta milhões. Este é o número de crianças e adolescentes que tiveram seus estudos interrompidos, em 2024, por causa dos eventos climáticos. A informação, de um relatório recente da Unicef, também destaca que eventos climáticos no Brasil afetaram os estudos de 1,17 milhão de meninas e meninos no ano passado. 

Agora em 2025, com a volta do ano letivo, há vários relatos de escolas brasileiras que não estão preparadas para enfrentar as ondas de calor. Um levantamento do Instituto Alana revelou que um terço das capitais brasileiras tem metade das suas escolas em áreas denominadas “ilhas de calor”, com pouca cobertura vegetal, onde a temperatura atinge 3ºC a mais do que a média da cidade em que estão localizadas. No ano passado, estudantes da educação básica no Rio Grande do Sul ficaram mais de um mês sem aulas por conta das enchentes. Neste ano, ficaram sem aulas novamente, por conta da onda de calor.

A melhor forma de enfrentar um problema como o aquecimento do planeta é conhecendo-o em detalhes, assim como a melhor forma de enfrentar um time, no futebol, é destrinchando o seu estilo de jogo

O tema faz parte da vida prática de alunos e suas famílias. Mas e da vida teórica, dentro de sala de aula? É isso que que será avaliado, neste ano, pela prova do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, conhecida como Pisa (Programm for International Student Assessment). A ideia é entender o que os estudantes de 15 anos sabem a respeito dos fenômenos climáticos e de como enfrentá-los.

A avaliação dessas habilidades na prova de ciências do PISA não é novidade. Na edição de 2018, já houve uma ênfase em temas ambientais e de letramento climático. Mas de lá para cá o que mudou em relação à educação ambiental e climática nas escolas? A pergunta é quase retórica, visto que na esfera governamental, estados e municípios pouco avançaram nessa agenda. 

A prova deste ano deverá testar o conhecimentos dos alunos sobre o clima, a dinâmica da manutenção da temperatura do planeta, as alterações causadas pela humanidade no antropoceno e os desafios que teremos (e já temos) que enfrentar para conviver com os eventos climáticos extremos. Dado curioso: uma das habilidades pesquisadas pela prova do Pisa é a de “demonstrar esperança na busca de soluções para crises socioecológicas”.

O fato é que escolas não estão preparadas para a crise, e os professores não têm o ferramental teórico e metodológico necessários para ensinar sobre ela. Quem aqui aprendeu ou está aprendendo a lidar com as mudanças climáticas na graduação? Ou na pós-graduação? Será que temos profissionais em todas as áreas preparados para oferecer produtos e serviços em meio às graves crises socioambientais que enfrentaremos no futuro?

O Brasil tem uma política nacional de educação ambiental. Além disso, conta com o Programa Nacional de Diretrizes Curriculares, que incluem as Diretrizes Curriculares para a Educação Ambiental Climática. A lei prevê que este campo do conhecimento seja trabalhado de forma transversal em todos os níveis da educação básica e no ensino superior. Ou seja, na teoria estamos bem.

O problema é que a prática anda em velocidade bem maior: especialistas do IPCC,  o painel intergovernamental da ONU para debater as mudanças climáticas, julgavam que os incêndios em grande escala, decorrentes das fortes ondas de calor, começariam a ocorrer a partir de 2030. Pois bem: 2030 já é hoje.

ESTUDANDO O ADVERSÁRIO

A melhor forma de enfrentar um problema é conhecendo-o em detalhes, assim como a melhor forma de enfrentar um time, no futebol, é destrinchando o seu estilo de jogo. Falhamos quando não implementamos a educação ambiental climática em todos os espaços de educação, formal e não formal, para crianças, jovens, adultos e idosos. 

Na França, universidades e empresas têm recebido de um workshop chamado Mural do Clima, para que o conhecimento sobre a emergência climática alcance o maior número de pessoas. As subsidiárias no Brasil e em outros países são orientadas a fazer o mesmo. Enquanto isso, por aqui a pauta ambiental continua secundária, carregada de desconhecimento e negacionismo. Falta financiamento para a adaptação, sobretudo das populações mais vulneráveis. Mas não faltam empresários e políticos animados com novas perfurações de poços de petróleo. Até quando vamos continuar achando normal que pessoas em cargos importantes não saibam nada sobre mudanças climáticas? 

Estamos às vésperas de uma COP do Clima na Amazônia, sem que haja, até o momento, um lugar em que jovens e educadores possam se reunir, trocar experiências, aprender uns com os outros e participar ativamente da elaboração de propostas de educação para a mitigação e adaptação às mudanças do clima. O Brasil, que já usou o slogan “Pátria Educadora”, pelo jeito, vai desperdiçar a chance de apontar nesta COP qual é o caminho mais democrático, inclusivo e participativo de enfrentar o maior desafio da humanidade. Uma pena. Deveríamos, quem sabem, nos morar no exemplo dos jogadores de futebol, que sempre exaltam – sobretudo após uma vitória – a importância de seguir “os ensinamentos do professor”. 

Andrea Puppo é coordenadora de educação ambiental no Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)