Estado-sede da COP 30, o Pará entrou em campo decepcionando a torcida em 2025. Enquanto as arquibancadas esperavam bons exemplos na pauta socioambiental, o estado jogou contra a defesa da Amazônia, dos seus primeiros habitantes e daqueles que trabalham para defender o bioma. Três derrotas amargas, com três gols contra.

Veja abaixo a análise das partidas.



Primeiro gol contra: alta no desmatamento e na degradação

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) indicaram que, em 2024, o desmatamento continuou sendo a maior fonte de emissões do Brasil. Ou seja: barrar a devastação dos biomas ainda é a melhor jogada para reduzir a liberação desses poluentes e combater as mudanças climáticas.

Mas mesmo tendo conquistado a sede da COP 30, evento que discute estratégias para reduzir as emissões mundiais, o Pará seguiu sendo o estado que mais desmata na Amazônia. Conforme dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, entre janeiro e dezembro de 2024, foram destruídos 1.260 km² de florestas em solo paraense, o que equivale a 345 campos de futebol por dia. Isso foi 3% a mais do que o devastado no mesmo período de 2023: 1.228 km².

Bola murcha acumulada há nove anos seguidos, desde 2016. E isso se olharmos apenas os dados do SAD de janeiro a dezembro. Se formos analisar o período chamado “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte, por causa das chuvas na Amazônia, o Pará lidera a devastação desde 2006, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).


Outra péssima jogada do Pará foi no combate à degradação florestal, dano causado pelas queimadas e pela extração madeireira (diferente do desmatamento, que é a remoção completa da vegetação). De janeiro a dezembro de 2024, foram degradados 17.195 km² de floresta no estado, uma alta de 421% em relação a 2023. Com isso, o Pará também ficou na liderança como o estado que mais degradou a Amazônia em 2024.

Segundo gol contra: sancionamento da lei 10.820/2024

Outra jogada muito criticada pela torcida foi a aprovação da Lei estadual 10.820/2024, que exclui do seu texto o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (SOMEI), modelo que garante o exercício de aulas presenciais nas aldeias do Pará e é considerado essencial por movimentos dos povos originários.

Após esse gol contra, representantes de diversas etnias ocuparam o prédio da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC), em Belém. Eles iniciaram a ocupação no dia 14 de janeiro e ganharam apoio de movimentos quilombolas, de professores da rede estadual, de entidades sindicais, de artistas e de outros grupos sociais na cobrança pela revogação da lei, sancionada em dezembro do ano passado pelo governador Helder Barbalho.

O dispositivo legal também altera o plano de cargos, carreiras e jornada de trabalho do magistério estadual, o que também motivou uma greve dos professores, iniciada em 23 de janeiro. Além da revogação da lei, indígenas, professores e apoiadores também pedem a exoneração do secretário de Educação do estado, Rossieli Soares.

O governo do Pará só mudou sua atitude em campo no dia 5 de fevereiro, quando Barbalho assinou um termo de compromisso de revogação da lei. Mas lideranças indígenas que ocupam a Seduc afirmaram que os movimentos devem permanecer no local até que a revogação seja aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado e publicada em Diário Oficial. A votação está prevista para esta quarta-feira, 12 de fevereiro. É melhor esperar o final da partida para comemorar a vitória.

Terceiro gol contra: desvalorização dos servidores ambientais

Dez anos depois de entrar em campo pedindo a aprovação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), os servidores da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) e do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio) seguem com o placar desfavorável.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Gestão Ambiental do Estado do Pará (Sindiambiental), os servidores dos órgãos recebem a menor remuneração entre os profissionais ambientais da Amazônia. Com isso, no dia 29 de janeiro, realizaram uma manifestação pelas ruas de Belém e decidiram entrar em greve a partir de março caso as pautas não sejam atendidas.

Com tanto ponto perdido no início do campeonato, o governo do Pará vai ter que melhorar muito seu desempenho dentro de campo se quiser comemorar vitórias. Afinal, quem joga em casa tem que saber que a torcida joga junto, apoiando o time mas também cobrando, quando a equipe não entrega resultados. (DAISY FEIO)

MÚSICA PARAENSE DA RODADA

Rodada que não tem três gols a favor da pauta socioambiental fica sem pedido de música. Mas, em homenagem ao ato histórico dos indígenas pela educação, com a ocupação da Seduc, a trilha escolhida é o álbum Kiribasáwa Yúri Yí-Itá (A Força Que Vem das Águas), das Suraras do Tapajós: